Lula e Bolsonaro tiveram 100% dos votos em 147 urnas

Em 147 seções eleitorais, Lula ou Bolsonaro tiveram todos os votos válidos, apesar da polarização Unanimidade ocorreu em diferentes regiões, geralmente em povoados rurais e áreas indígenas

Lula e Bolsonaro tiveram 100% dos votos em 147 urnas

Duas urnas com resultados antagônicos numa só cidade. Em uma, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) garantiu todos os votos válidos do segundo turno. Na outra, 100% foram para Jair Bolsonaro (PL). Pode parecer roteiro de fake news, mas aconteceu em Charrua, no noroeste do Rio Grande do Sul. E o que soa quase impossível num Brasil dividido eleitoralmente não foi tão raro assim: segundo levantamento do GLOBO com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 147 seções do país um dos candidatos ao Palácio do Planalto conseguiu ser unanimidade no último domingo. O placar foi favorável ao petista, que venceu sem chance alguma para o adversário em 144 urnas, contra três dessas vitórias absolutas para a conta de Bolsonaro.

Leite sobre governo Lula: Não vamos passar pano para o PT, mas diálogo com Alckmin será mais fácil'

Sonar: TSE suspende vídeo de argentino que divulgou fake news sobre urnas, compartilhado por Nikolas Ferreira

Um dos consensos chegou a virar teoria conspiratória de fraude nas redes sociais e aplicativos de mensagens. Numa seção de Confresa, no Mato Grosso, teoricamente um domínio bolsonarista, foram 383 votos válidos, exclusivamente em Lula. Mas o que gerou estranheza nas redes sociais foi logo esclarecido pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MT): a urna da Escola Estadual Tapi’itawa recebeu os votos da aldeia indígena Urubu Branco. E, como o cacique local confirmou, todos optaram, de fato, pelo petista.

Aldeias e quilombos

Esse mesmo fenômeno se repetiu em outras regiões, majoritariamente longe dos grandes centros urbanos, em povoados rurais, aldeias indígenas e comunidades quilombolas ou ribeirinhas. Nos locais onde estavam essas urnas, 22 tinham “aldeia” no nome; 27, “comunidade”; e outras 51, “povoado”. No Mato Grosso, apesar da vitória de Bolsonaro com 65,08% dos votos, áreas indígenas de Confresa e de outros quatro municípios (Porto Alegre do Norte, Campinápolis, Santa Terezinha e Peixoto de Azevedo) deram 100% dos votos válidos para Lula.

No Amazonas, São Gabriel da Cachoeira foi o município campeão de unanimidades em favor do petista: sete vitórias de 100% , todas em regiões rurais indígenas no Alto Rio Negro, algumas delas em áreas de acesso muito difícil , na fronteira com a Colômbia ou próximas ao Parque Nacional do Pico da Neblina. Ainda no estado, o presidente eleito também foi apoiado pelas comunidades indígenas Vendaval e Santa Inês, ambas no Alto do Rio Solimões, em São Paulo de Olivença.

Num predomínio igual, em Quiterianópolis, no Ceará, os indígenas Tabajaras deram 100% dos votos a Lula — só dois votaram nulo, no número 12, segundo o registro digital da seção. Elenize Tabajara, uma das lideranças locais, diz que o apoio foi natural.

— Somos nordestinos no sertão do Ceará. A maioria aqui tem grande admiração não pelo PT, mas pelo governo que Lula realizou. Bolsonaro não fez um bom governo, principalmente, para comunidades indígenas e quilombolas — diz ela, numa região onde a maioria trabalha com agricultura, não recebe Auxílio Brasil e foi beneficiada por políticas dos mandatos de Lula.

só houve votos para Lula. Na 43, Bolsonaro só se livrou de ficar zerado porque teve um único voto.

No exterior

Houve quatro urnas com placar de 100% a zero até mesmo nos locais de votação para brasileiros que vivem no exterior. Fica na Venezuela, tantas vezes citada na campanha, um dos exemplos: em duas seções da capital Caracas, a abstenção foi quase generalizada, mas os que compareceram às urnas foram todos a favor de Bolsonaro. Lula, por sua vez, reinou sozinho numa seção de Porto Iguaçu, na Argentina, e em outra de Havana, em Cuba.

As urnas que registraram unanimidade não tiveram relevância no resultado final das eleições: elas representaram cerca de 0,03% dos 60,3 milhões de votos que Lula obteve.